INSTITUTO CULTURAL PADRE JOSIMO
PROGRAMA REVISTA DE RÁDIO
Produção e apresentação: Frei João Osmar
631º programa: 18 de setembro de 2025:
1- Resenha: No programa de hoje vamos tratar sobre o 25º Encontro diocesano de sementes crioulas, em Cruzeiro do Sul, Diocese de Santa Cruz do Sul, RS, em agosto deste ano, reunindo centenas de pequenos agricultores de diversas regiões do estado. Sigo aqui material publicado no site do jornal Brasil de Fato de 30 de agosto, cujo link coloco a seguir para quem quiser ter acesso ao material completo: Encontro de sementes crioulas partilha vida em cidade gaúcha atingida por enchentes – Brasil de Fato
Encontro de sementes crioulas partilha vida em cidade gaúcha atingida por enchentes
Festas da semente crioula são uma tradição camponesa de resgate da agricultura fora da lógica de mercado. Quem multiplica compartilha e quem precisa encontra. Assim foi o 25º Encontro das Sementes Crioulas da Diocese de Santa Cruz do Sul, realizado em Cruzeiro do Sul, município gaúcho atingido pelas enchentes em 2023 e 2024. Esta edição do Bem Viver, programa do Brasil de Fato, traz o evento reuniu centenas de agricultores do Vale do Taquari. Para o agricultor Zeca Lovato, o encontro significa vida e partilha. Ele conta que levou diversas plantas de sua propriedade no município de Paraíso do Sul e que retorna com outras.
“Eu trouxe açafrão, batata de cará do chão, caramuela, trouxe várias sementes de milho. Eu tenho aqui um arroz sequeiro, um milho indígena e mais alguma semente melancia. Então, isso aqui continua sendo resgatado. Uma semente milenar, uma semente que é lá dos primeiros povos”, afirma. Teresina do Nascimento, de Cruzeiro do Sul, aproveitou o encontro para ampliar a horta que está reconstruindo depois de perder tudo na enchente. “Capim cidreira foi embora com a água, a flores foram foi tudo embora com a água, a casa uma parte dela foi embora também. Essas coisas assim que nem o abacaxi, eu consegui recuperar agora aqui, porque eu queria comprar e não conseguia. Porque a minha condição não tá fácil”, conta. Com suas sementes e mudas nas mãos, ela conta que, aos poucos, com fé, força e solidariedade, está superando as dificuldades. “A minha horta lá tá a coisa mais linda. Eu só tô levando o que eu não consegui ainda.”
A Horta Comunitária do Universitário, experiência de plantio urbano no município de Lajeado, iniciou com sementes das trocas em 2021. Neste ano, retorna para distribuir sementes e mudas, reforçando a rede de apoio mútuo da agricultura familiar. É o que conta uma das integrantes da iniciativa, Magali Brand. “Hoje é uma felicidade muito grande, nós, como agricultores urbanos de Lajeado, poder já estar contribuindo com essas trocas também. Então hoje, além de pegar sementes que a gente não tem, a gente já está trazendo sementes que a nossa horta está produzindo”, diz Brand.
A agricultora Márcia Inês Burghardt, de Cruzeiro do Sul, plantava fumo e, por motivo de saúde, trocou para plantio orgânico. Ela não imaginava que a mudança traria tantos benefícios para sua família, inclusive financeiros. “Antes nunca tinha dinheiro e hoje conseguimos conquistar algumas coisas”, celebra. Burghardt destaca que a mudança para o orgânico abriu novos horizontes. “A gente aprendeu muito, pra cuidar da nossa terra, porque antes era muito veneno e isso aqui traz um aprendizado muito grande pra gente. A troca de sementes, tu vai pegando coisas diferentes, voltando ao passado, voltando aos nossos avós, que antigamente faziam esse tipo de coisa.”
CPT ao lado dos camponeses: A Comissão Pastoral da Terra (CPT) promove o Encontro das Sementes Crioulas da Diocese de Santa Cruz do Sul desde 2001. Uma festa da agroecologia, da espiritualidade e da soberania alimentar, onde não falta mística camponesa, apresentações artísticas e claro, feira de sementes, alimentos e artesanato. Entre os feirantes está Sadi Giacomin, guardião de sementes de milho crioulo. “Nós estamos trazendo as farinhas de milho crioulo orgânicas, as chimias, as geleias, porque nós somos uma agroindústria de doces e conservas vegetais. E ainda produzimos milho, nós somos guardiões da semente de milho crioulo. Nós produzimos 11 variedades de milhos diferentes. Para Giacomin, não depender de sementes de multinacionais significa autonomia. “Nós podemos produzir em nossa propriedade o que nós vamos plantar e vamos produzir. E é muito diferente. Quem compra o nosso produto, principalmente a farinha, eles dão um depoimento que é bem diferenciado e não faz mal.”
Artesanato indígena e economia solidária: Indígenas Kaingang que vivem em acampamento na beira da estrada na região também estiveram presentes com luta, cultura e uma banca com diversos produtos, como conta Mariane Antunes da Silva: “A gente trouxe o artesanato de cipó, de taquara, o cipó-milome, a erva santa, outros tipos, variedades de chás que hoje na região são bastante extintos.” Ela vê a agroecologia como algo positivo, principalmente por se colocar contra o desmatamento, que “é forte na região, tanto por causa das grandes indústrias”. Ela alerta que a escassez de matas nativas impacta o artesanato dos indígeas: “Hoje em dia a gente acaba migrando os indígenas para artesanatos que sejam mais para uso de linhas, uso de miçangas, porque o que a gente usa mesmo está bastante extinto”.
A economia solidária também marcou presença. Entre as iniciativas que expuseram seus trabalhos de geração de renda está a da Associação Cruzeirense de Artesãos. Lizelote Neitzke, artesão, conta que o grupo já participou de vários encontros de sementes crioulas. “É um artesanato diferenciado, crochê, tricô, pintura. A gente acha muito importante esse evento, que é o nosso básico do município, é a agricultura, de grande importância, e a gente leva a nossa arte junto com isso”, afirma.
“Os verdadeiros donos das sementes”: Padre Arnildo Fritzen, uma das figuras que há décadas transita entre espiritualidade e a luta pela terra, esteve no encontro. Com uma caminhada que passou pela origem do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) e outras iniciativas populares do campo, ele deixa uma mensagem sobre a relevância da atividade: “O sistema econômico, político e social no qual vivemos, ele tem uma proposta materialista da monocultura. E, por isso mesmo, vai eliminando a natureza, vai acabando com a natureza, vai destruindo todo o trabalho dos pequenos e vai impondo a monocultura única que é tocada apenas pelo agronegócio, e o povo acaba ficando com a sobra, com a exclusão, com o lixo. Então, um encontro como esse aqui é fundamental para nós articularmos aqueles que sempre fizeram a produção dos alimentos, que são os verdadeiros donos das sementes, porque sempre cuidaram da terra.”
2-Testemunho/entrevista: Hoje vamos ouvir o testemunho de três mulheres do RS com histórico de práticas e lutas agroecológicas, cada uma a seu modo, mas que fazem a diferença em seus territórios e nos ambientes em que atuam. Áudios gravados inicialmente para o SINFRAJUPE/ programa Reflexões com Frei Gilberto Teixeira relativos ao Tempo da Criação. Vejamos: Deise Abé Professora aposentada e proprietária de um sítio no interior do município de Vale do Sol que está sendo transformado em agroecologia e agrofloresta; Marilene Maia professora universitária, pesquisadora e agente comunitário de ações agroecológicas; e Rosiele Ludtke agricultora agroecológica, feirante e agente do Movimento de Mulheres Camponesas.
3- Música: Mística, Marcha e a Canção, com Zé Pinto;
4- Fotos da internet: Encontro de Sementes Crioulas: