Artigo

Revista de Rádio Nº 565 – 13 de junho de 2024

Publicado em 14 de junho de 2024

INSTITUTO CULTURAL PADRE JOSIMO 

PROGRAMA REVISTA DE RÁDIO

Produção e apresentação: Frei João Osmar

565º programa: 13 de junho de 2024:

1- Resenha: No programa de hoje, diferente do que disse na semana passada, ainda vamos tratar sobre as enchentes que atingiram o RS no último mês de maio e suas consequências. Primeiro porque o testemunho que eu havia pedido para Adilio dias atrás, ele enviou-me agora e faz referências às enchentes, bem como nos manda um Poema/Oração “DEUS COM VOCÊ” que ele escreveu durante um encontro inter religioso realizado na sede do Ilê de Mãe Negrita na Lomba do Pinheiro, Porto Alegre, RS nos primeiros dias da enchente, cujo poema ele proclamou para os presentes e se encontra no final de sua fala, no encerramento deste programa. Também sigo aqui um belo texto de Mauricio Busatto publicado no site do Jornal Brasil de Fato RS com título Memórias sob as Águas, cujo link para acesso ao artigo em sua íntegra encontra-se abaixo.

Coluna | Memórias sob as águas | Brasil de Fato – Rio Grande do Sul (brasildefators.com.br)

Memórias sob as águas – Mauricio Busatto

Que o laço social ampare a reconstrução necessária de cada mito individual

Para muitas famílias, é hora de voltar para casa. Claro, para aqueles que têm a “sorte” de ainda ter uma casa para retornar. A inundação, causada tanto por eventos climáticos extremos quanto pela falta de manutenção dos sistemas de proteção das cidades, que estavam ocupadas com “outras agendas”, afogou não apenas vidas, mas também lembranças materializadas em objetos.

Nos mutirões de limpeza que temos realizado, vivemos a experiência de uma caça ao tesouro. A famosa brincadeira da infância se tornou uma dolorosa corrida contra o tempo para encontrar algo precioso. São elementos valiosos que ultrapassam o valor monetário que o capital insere nos objetos, indo além do preço de mercado e adquirindo sua valoração a partir do lugar que ocuparam em determinada cena.

“O cachecol que minha avó fez”, “as alianças dos meus pais”, “os sapatinhos do meu filho” e tantos outros elementos que são pilares da história de cada pessoa que encontrou nos últimos tempos um significado assustador na palavra água. Tem sido intenso acompanhar a tristeza no olhar de quem perdeu quase tudo, ofuscada por um lampejo de alegria no encontro com uma foto que se imaginava até então perdida.

Entre tantas experiências, testemunhei o choro desesperado de uma mãe ao se deparar com o álbum de fotos perdido da infância do filho, assim como o desespero de uma senhora que chorava pelo medo de ser traída pela própria memória e esquecer o rosto dos pais, já que as únicas fotos deles ficaram mergulhadas pela irresponsabilidade daqueles que anunciaram firmemente que “não é hora de procurar culpados”. Também escutar o doloroso depoimento de uma jovem que relata que a sua vida já estava sendo perdida por uma luta contra o câncer, e que o lar destruído tornava inviável seguir tentando sobreviver. É um sofrimento inominável acompanhar tudo isso.

Temos testemunhado várias histórias destroçadas. Nós, enquanto sociedade, nos deparamos com um luto que demandará muito trabalho psíquico para ser minimamente elaborado, na melhor das hipóteses. A perda dos elementos que trazem a materialidade de tantas histórias não tem preço. As inúmeras famílias foram violentadas em seu ponto mais sagrado: o suporte material de suas narrativas. Que o laço social ampare a reconstrução necessária de cada mito individual. 

2- Testemunho/entrevista: Hoje vamos ouvir o testemunho Adilio Almeida de Souza nascido em 1967 na cidade de Santa Maria, RS, mas criado desde menino em Porto Alegre. Ele cresceu em um ambiente multi-religioso, multi-artístico cultural, no Bairro Cidade Baixa na Capital Gaúcha. Participou ativamente de movimentos estudantis, populares, de reivindicação e políticos. Trabalhou por mais de 30 anos na Brigada Militar do RS, onde atuou no trabalho ambiental e em comunidades indígenas. Adilio é casado com Eliane Almeida de Souza – a Mãe Negrita – com quem é cofundador e da direção do Instituto APAKANI, que atua em ações que envolvam a defesa dos Direitos Humanos, proteção étnicos raciais, dentre outras. Trata-se de um belo testemunho de vida dedicada ao cuidado da vida.

3- Música: Um Pingo no Telhado, com Fafá de Belém e outros…;

4- Fotos: Da internet – Adílio almeida de Souza e Instituto APAKANI:

Áudio 1

Áudio 2

Este site usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação e ao continuar navegando neste site, você declara estar ciente dessas condições. As informações coletadas neste site são realizadas pelo serviço Google Analytics™ (veja a Política de Privacidade).