Missão Sementes de Solidariedade já chegou a 15 municípios e prevê entregar kits de sementes e mudas início de setembro
A atuação dos movimentos sociais de diferentes matrizes e organizações pastorais vinculadas à igreja que estão reunidos na Missão Sementes de Solidariedade desde os primeiros dias após as ocorrências climáticas que produziram as enchentes e deslizamentos catastróficos que atingiram grande parte do território do RS, seguem percorrendo os territórios atingidos, com especial foco de atenção para os territórios rurais onde estão os segmentos da agricultura familiar e camponesa, comunidades quilombolas e aldeias indígenas, costumeiramente invisibilizados.
“Já se passaram mais de 100 dias da tragédia e é incrível que ainda há lugares em que chegamos e quando sentamos para conversar as pessoas nos contam que somos os primeiros que estamos parando para ouvir, para entender o que está acontecendo ali, para olhar nos olhos e fazer a escuta e dar uma palavra de alento e deixar alinhado um compromisso de retorno com sementes e mudas para recomeçar uma roça ou um pomar”, conta o militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) Joel Oliveira dos Santos.
Até o momento os cerca de 100 voluntários mobilizados percorreram 70 comunidades em 15 municípios nas regiões do Vale do Taquari, Rio Pardo e Jacuí. Os grupos passaram por Colinas, Estrela, Travesseiro, Marques de Souza, Arroio do Meio, Bom Retiro do Sul, Taquari, Cruzeiro do Sul, Venâncio Aires, General Câmara, Sinimbu, Barros Cassal, Candelária, Cerro Branco e Agudo. Ações pontuais em outras regiões realizadas por grupos temáticos descentralizados também estão sendo colocadas em prática nas regiões Norte, Sul e Central do estado, onde há pequenos agricultores atingidos, porém com menor intensidade.
Embora os dados não estejam fechados e as visitas aos atingidos continuem sendo realizadas, estima-se que até o momento 2 mil famílias tenham sido visitadas, das quais mais de 95% manifestaram concordância em receber de volta as equipes com a doação de kits contendo sementes de milho, feijão e hortaliças, mudas de árvores frutíferas, nativas, batata-doce e pastagem, insumos agroecológicos e material informativo/orientativo.
Gerson Borges, voluntário que assumiu a coordenação dos trabalhos da Missão Sementes de Solidariedades nas últimas semanas, avalia as atividades e projeta os próximos passos: “Por meio de visitas nas propriedades e comunidades atingidas pelas enchentes a missão está levando solidariedade e esperança para milhares de agricultores. A solidariedade tem se expressado por meio da escuta e do abraço fraterno. A esperança se materializa nas sementes que serão entregues e a possibilidade destes agricultores voltarem a cultivar suas terras. Nas próximas semanas manteremos as visitas individuais e coletivas, concomitantemente, daremos início às entregas dos kits de sementes, mudas e bionsumos”.
Famílias contempladas com programa habitacional já receberam kits de sementes, mudas e bionsumos
No início de agosto representantes da Missão Sementes de Solidariedade participaram do ato de assinatura do contrato de liberação de recursos para a construção de 300 moradias para pequenos agricultores atingidos pelas enchentes de 2023 através do programa Minha Casa Minha Vida Rural, modalidade Calamidades.
Na oportunidade as famílias que foram beneficiadas pelo programa habitacional e já foram cadastradas pelas equipes da Missão Sementes de Solidariedade tiveram a oportunidade de levar consigo kits produtivos contendo a maior parte dos itens que estão sendo mobilizados pela campanha para a recomposição produtiva de subsistência dos agricultores familiares e camponeses atingidos pelas enchentes e deslizamentos.
Essa ação somente foi viabilizada graças a doação de 12 mil quilos de milho recebida da empresa Nicola Vicenzo Di Salvo, de São Carlos (SP), cujo frete até o RS foi também custeado por outra doação, esta realizada pela Eletrobras. Parte dessa doação já foi então repassada para esses agricultores.
As mudas de árvores nativas e frutíferas produzidas nos viveiros das cooperativas Certel, Creluz e Coptil também foram itens decisivos na viabilização dessa atividade. Tão concorridas quanto as mudas de árvores foram as mudas de flores oferecidas durante a atividade, garantindo que além do abrigo das novas residências tenham a garantia do bem estar e da qualidade de vida digna de um lar acolhedor.
Cozinhas solidárias seguem recebendo alimentos produzidos pelo campesinato
Se por um lado as ações de habitação popular começam a alcançar os primeiros beneficiados, é inegável que ainda há um grande número de atingidos e atingidas em abrigos precários ou provisórios, atendidos por aluguel social, alojados por amigos e familiares ou mesmo acampados em espaços as margens de rodovias.
Pensando nessas pessoas a Missão Sementes de Solidariedade segue mobilizando a produção de alimentos saudáveis a partir da base camponesa principalmente das cooperativas Origem Camponesa (na região Central e Sul do RS) e Cooperbio (na região Norte do RS) para contribuir com as cozinhas solidárias.
As estruturas seguem operando e garantindo alimentação de qualidade tanto para voluntários e voluntárias que permanecem atuando nos territórios, quanto para os atingidos e atingidas que ainda não tiveram as condições de retomar suas vidas com a segurança de uma habitação e a dignidade de um trabalho.
Desde as primeiras remessas, nas primeiras semanas de maio, até o momento, foram mais de 15 toneladas de alimento de qualidade, compartilhado pelos camponeses e camponesas. E os dirigentes locais garantem que há mobilização permanente e muita motivação para seguir trabalhando e produzindo até todos e todas estejam em condições de retomar suas rotinas com tranquilidade.
Guardiões de sementes e produtores de PANC recebem mix de sementes para recuperação de solos
Outra ação prévia de retorno executada pela cooperativa Origem Camponesa dentro do âmbito da Missão Sementes de Solidariedade foi uma partilha de cerca de 800 quilos de sementes de adubação de inverno e 500 quilos de remineralizador (pó de rocha), destinadas para recuperação da fertilidade do solo em áreas degradadas.
O mix de adubação contendo sementes de ervilhaca, nabo forrageiro, trigo mourisco, centeio, aveia preta e aveia branca foi destinado tanto para pequenos agricultores da base do Movimento dos Pequenos Agricultores que se dedicam à produção de sementes ou atuam como guardiões e guardiãs de sementes atendidos pela cooperativa Origem Camponesa, bem como para pequenos agricultores de matriz camponesa que atuam na produção de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) e contribuíram na construção da área experimental de cultivo do projeto PANC POP, mantido pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) em seu campus de São Lourenço do Sul.
Segundo os técnicos da cooperativa, as sementes e insumos compartilhados são suficientes para fomentar a recuperação entre 15 e 20 hectares que estarão aptos para a implementação de sistemas de produção biodiversos, resistentes e resilientes para receber os plantios da primavera.
Homenagem recebida na Câmara dos Vereadores em Santa Cruz do Sul
As ações de solidariedade militante desempenhadas pela Missão Sementes de Solidariedade receberam reconhecimento público da Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul. Por iniciativa da vereadora Dianefer Berté Schwendler, que na primeira semana de julho ocupava a vaga do Partido dos Trabalhadores na casa legislativa, foi apresentada a proposição de destaque à moção de congratulações ao Projeto Missão Sementes de Solidariedade – Emergência, homenageando-o pelo atendimento a milhares de agricultores familiares camponeses que foram atingidos pelas enchentes na região.
A indicação foi referendada pelos demais vereadores e registrada através da presença de representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Diocese de Santa Cruz do Sul, organizações que compõem a Missão, e se fizeram presentes na sessão onde a homenagem foi oficializada.
Coletivo da Missão Sementes de Solidariedade já soma 23 organizações participantes
Tendo em sua cabeça de rede a Cáritas, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ), a Missão Sementes de Solidariedade vem agregando o apoio de diferentes organizações desde o início de sua atuação e atualmente conta com a participação das seguintes organizações e movimentos:
Movimento dos Atingidos e das Atingidas por Barragens (MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Diocese de Santa Cruz do Sul, Rede de Agroecologia Ecovida, Articulação pela Economia de Francisco e Clara, Gritos dos Excluídos, Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Instituto Koinós, Freis Franciscanos (Serviço Justiça Paz e Integridade da Criação), Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro-RS), Canoas Tec, Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Sem Teto (MTST), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Eletrobras. Também fazem parte da missão as cooperativas Certel, Cooperbio, Origem Camponesa, Coptil e Creluz.
Arrecadação de recursos para aquisição de sementes e custeio de ações segue sendo realizada
Doações podem ser encaminhadas para o PIX da Cáritas, com a chave: 33654419.0010-07 (CNPJ). Outra possibilidade de colaboração se dá por meio de depósito bancário para a Conta Corrente: 55.450-2 / Agência 1248-3 (Banco do Brasil).
Os recursos e a mobilização estão sendo diretamente administrados pelo escritório regional da Cáritas no Rio Grande do Sul e sendo objeto de prestações de contas continuada.
Para participar como voluntário da força-tarefa que realiza as visitas presenciais nas comunidades mapeadas, família a família, é necessário fazer a inscrição neste formulário.
Os mobilizadores explicam que está sendo solicitado aos voluntários a disponibilidade mínima de tempo de uma semana para viabilizar deslocamento, capacitação e incursões a campo.
Os esforços de visitação a comunidades rurais atingidas segue ocorrendo. Comunidades que ainda não foram visitadas, mas que desejam receber a missão, podem informar os dados neste formulário, deixando o próprio contato ou o de uma liderança local como referência.
Edição: Katia Marko