Pela transição justa, começa debate para criar o Polo Regional Energético e Ambiental do Pampa Gaúcho

4 de março de 2023
Notícias
 
O conteúdo desta publicação foi publicado no site Tribuna do Pampa.
 
A preocupação com o futuro social e econômico da região tem ganhado contornos até dramáticos nos últimos tempos, especialmente pela incerteza, sem qualquer definição mais concreta sobre o destino do carvão mineral e toda uma cadeia industrial que se formou ao longo de mais de seis décadas, tendo Candiota como centro desse processo.
 
Aliás, este complexo industrial carbonífero é o único em quase 600km, entre Pelotas e Uruguaiana. O polo gera energia elétrica e um dos seus subprodutos (a cinza) alimenta a indústria do cimento, além de cavas de minas de carvão serem usadas para depósito de resíduos sólidos num aterro sanitário que atende a Metade Sul do Estado. Toda essa cadeia pode ser quebrada caso não haja uma espécie de reconversão, dentro de um plano consistente para que se faça a chamada transição energética justa (TEJ).
 
Por iniciativa do Executivo de Candiota, foi realizado e pode ser considerado histórico, um encontro na Sala de Reuniões da Prefeitura local na tarde da última segunda-feira (27), que pretende ser o embrião, o pontapé inicial de um processo que ainda depende de muitos fatores para se tornar realidade e espantar de uma vez por todas a insegurança e incerteza que insistem em pairar no ar neste momento, sobre o futuro da região e especialmente de Candiota.
 
O encontro reuniu cientistas e professores da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), estudiosos do Instituto Cultural Padre Josimo – que deverá ser o responsável pela sistematização da proposta, além de lideranças políticas e sindicais de Candiota.
 
POLO – Na oportunidade, o Instituto Padre Josimo, liderado pelo frei franciscano e ex-deputado estadual Sérgio Görgen, que é morador do interior de Hulha Negra, apresentou um texto-base daquilo que se acredita ser uma possibilidade concreta de sensibilização de esferas de poder superiores, como a estadual, mas especialmente a federal.
 
O documento esboça uma proposta inicial de criação do Polo de Inovação Energética e Ambiental do Pampa Gaúcho. “Esta é uma proposta inicial para um projeto de desenvolvimento econômico, social e ambiental no Pampa Gaúcho tendo três premissas: respeitar e potencializar as características ecológicas do Bioma Pampa; o uso sustentável do carvão mineral como matéria-prima industrial e alavanca econômica do projeto, através de processos de gaseificação, superando a fase de queima direta para produção de energia e, o processo de transição energética para evitar impactos duros no emprego, arrecadação e atividades econômicas, no caso de substituição brusca da atual matriz de aproveitamento do carvão como matéria-prima calórica para outras mais eficientes e sustentáveis”, afirma um dos três iniciais do documento de três páginas, que aponta entre os pressupostos que “quem usa uma fonte que gera CO2 em sua matriz de desenvolvimento, tem o dever de promover o equivalente em ações que sequestrem os gases de efeito estufa”.
 
Segundo frei Sérgio, que participou do debate de energia na transição do governo federal, a ideia é que a região apresente um projeto de forma holística, ou seja, que integre a região, onde o carvão mineral esteja no contexto e interagindo com as demais cadeias, como o turismo, a agroecologia, as uvas, vinhos, oliveiras, azeites e a carne, entre outras formas de expressão econômica local. “O meio ambiente precisa estar no centro desse debate e ser uma premissa. E esta proposta inicial de criação do Polo contempla tudo isso”, pontuou frei Sérgio.
 
O prefeito Luiz Carlos Folador fez uma convocação, frisando mais uma vez, que o encontro era apenas um início de um grande e longo debate. “Estamos aqui hoje em cerca de 30 pessoas, mas vamos precisar de muito mais na caminhada. Aqui tem lugar para todos que queiram participar desse movimento. Temos os pés no chão e muita motivação”, assinalou.
 
O presidente da Câmara local, Marcelo Gregório destacou que o debate iniciado no encontro se reveste de muita importância. “Temos gente qualificada para nos ajudar a desmistificar este preconceito sobre o carvão, pois geramos aqui há mais de 60 anos e não se tem impactos negativos significativos”, ponderou.
 
CARVÃO – A professora e doutora da Unipampa, Ana Rosa Costa Muniz, que há 10 anos se dedica ao estudo da gaseificação do carvão mineral de Candiota, participou do encontro, assinalando que a proposta inicial deve apontar para a gaseificação, com as atuais plantas sendo adequadas para um ciclo combinado de queima direta e syngás (gás obtido do carvão). Depois disso, sustenta ela, deve se partir para a carboquímica, focando inicialmente na produção de gás natural, fertilizantes e metanol.
 
Na proposta inicial do Polo, ainda se argumenta a necessidade de manutenção do atual parque gerador e a possibilidade de construção de uma nova usina, no caso a UTE Ouro Negro (na divisa entre Pedras Altas e Candiota), que já possui licenciamento prévio (LP) e o de instalação (LI) em andamento, sendo que paralelamente se fará a transição energética até 2050.
 
PRÓXIMOS PASSOS – Ficou acertado para o fim do mês de março próximo, a realização de um encontro regional, quando serão convidadas lideranças de todos os municípios interessados na criação do Polo. O evento deverá acontecer no auditório da Unipampa, em Bagé, quando deverá ser escolhidos os comitês técnicos e políticos para a elaboração final da proposta.