Jejum público começa em frente a Assembleia Legislativa em Porto Alegre (RS)

13 de dezembro de 2017
Notícias

Movimentos sociais, representações sindicais, ordens religiosas e segmentos populares iniciam ciclos de jejum contra a Reforma da Previdência

Se nos quatro cantos do Brasil estão sendo reforçadas as ações de pressão contra o governo federal e sua base de apoio para que desistam da Reforma da Previdência, não seria diferente na capital dos gaúchos, a Porto Alegre de tantas lutas e vitórias da classe popular. Desde a manhã desta quarta-feira, 13, trabalhadores do campo e da cidade iniciaram um jejum público em apoio e solidariedade aos companheiros e companheiras que estão há nove dias sem receber alimento, na greve de fome de Brasília, contra a reforma.

O ato teve seu início demarcado por um encontro dos participantes do jejum com representações da imprensa, autoridades e segmentos comunitários em frente a Assembleia Legislativa do RS. Participam do primeiro ciclo de jejum os seguintes companheiros: Caio Picarelli (LPJ), Vera Lemos (MST), Carlo Mioranza (MST), José Orestes Lovato (MPA), Júlio César de Lima (Comunidade da Vigília), Mário Zués de Vargas (MPA), Fátima Maria de Freitas Soares (FTIA), Claudir Nespolo (CUT/RS), Bruna Mariane Silva (MPA) e Gregory Teixeira da Silva (MPA). Os deputados estaduais Stela Farias, Nelsinho Metalúrgico, Tarcísio Zimmerman, Jéferson Fernandes e Altemir Tortelli, que fazem parte da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) também demonstraram sua solidariedade e apoio somando-se às primeiras 24 horas do jejum.

Rosieli Ludke, dirigente do MPA, que foi um dos movimentos que encabeçou a formação do ato em Porto Alegre, fez uma fala cheia de emoção e revolta na abertura, conclamando a sociedade como um todo, especialmente os trabalhadores do campo e da cidade, para somarem esforços nessa luta que não é apenas de um ou outro movimento, mas de todos os homens e mulheres contra essa contrarreforma da Previdência, “uma reforma que é da morte, que tira direitos dos trabalhadores e não mexe em nada nos privilégios daqueles que de fato criam problemas para a manutenção da previdência”. Aproveitando a forte presença de lideranças do segmento religioso, a camponesa arriscou lembrar de passagem do evangelho, onde “até mesmo Jesus fez a sua greve de fome no deserto, ao jejuar por 40 dias e 40 noites para compreender e viver a missão que lhe foi dada por seu pai”. No fecho de sua fala gritou a a toda voz por três vezes seguidas as palavras de ordem do Mutirão da Esperança Camponesa: “Quem alimenta o Brasil, exige respeito”.

Entre as lideranças sindicais estava o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Caludir Nespolo, que não apenas discursou, como também tomou assento e decidiu participar do jejum pelas primeiras 48 horas, de modo a agregar na vanguarda dessa luta popular: “com ações como essas, do jejum e da greve de fome, nós estamos fazendo chegar a todo o povo um chamado para que estejam prontos e dispostos a agregar forças com os lutadores que já estão nas ruas de nossas cidades”. Para ele, a CUT não poderia estar em outro lugar, neste momento da história, do que ali, ao lado dos trabalhadores, enfrentando, lutando, se sacrificando, fazendo parte. Nespolo desafiou os presentes a repetir as palavras de ordem da CUT que estão sendo entoadas em todos os atos que a Central está presente, como uma forma de recado direto para os deputados e deputadas que estão em Brasília: “Se marcar o Brasil vai parar!”

Igreja Católica e Anglicana presentes no jejum

Entre as autoridades eclesiais presentes, os bispos católico – Dom Adilson – e Anglicano – Dom Humberto -, relembraram o caráter profético que uma greve de fome representa, como um ato extremo de sacrifício executados por alguns em benefício de muitos, um mecanismo de defesa do trabalhador frente aos desmandos de um governo ilegítimo que executa suas ações de gestão sempre privilegiando as classes sociais mais elevadas e cerceando direitos e qualidade de vida aos mais humildes.

Dom Adilson, bispo católico, reafirmou as palavras do presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Sergio da Rocha, que esteve reunido com os grevistas de Brasília no dia anterior: “A igreja tem também este desafio de se somar, de andar ao lado do povo trabalhador, de sair às ruas, de fazer valer a sua doutrina social e buscar a construção de condições de justiça para todos”. Lembrou também o chamado reiterado do Papa Francisco, para que de fato a igreja esteja onde o povo está, junto com os trabalhadores em suas lutas, junto coms os pobres em suas necessidades, junto com os marginalizados em suas fragilidades.

Dom Humberto, bispo anglicano, também expressou palavras fortes, relembrando os diversos desafios que tem se colocado à frente do povo humilde, dos trabalhadores e trabalhadoras que diariamente tem vistos seus direitos sendo atacados covardemente por alguns integrantes da classe política que se vinculam ao governo de Temer. “O evangelho fala que bem-aventurados são os que tem fome sede de justiça, ele não fala se se são cristãos, judeus, muçulmanos ou mesmo ateus, ele fala que todos que tem fome e sede de justiça são bem-aventurados e que serão saciados”, explicou o religioso, fazendo analogia entre as palavras de Cristo expressas no evangelho e o momento crítico que o povo brasileiro vive neste tempo de abusos e injustiças.

Repercussão no estado

Ainda no RS, quatro militantes da base do MPA estão em greve de fome na cidade de Canguçu, há três dias, cuja interrupção fica condicionada a retirada por parte do governo do projeto de votação da contrarreforma da previdência. Hoje, 13/12, além de Brasília e Rio Grande do Sul, também estão sendo realizados atos em Sergipe, Piauí, Santa Catarina, Espírito Santo, Roraima, Bahia, Pernambuco, Goiás e Alagoas.

Lideranças do campo político que expressam renome no cenário nacional, como Miguel Rossetto (pré-candidato ao governo do RS) e Manoela D’Ávila (pré-candidata a presidência da república), bem como o presidente da Assembleia Legislativa do RS, deputado Edegar Pretto. Os deputados estaduais Tarcísio Zimmerman, Adão Vilaverde e Zé Nunes também estiveram presentes no ato, enquanto foram representados por sua assessoria parlamentar os deputados federais Dionilso Marcom, Maria do Rosário e senador Paulo Paim. Da Câmara Municipal de Porto Alegre, estiveram os vereadores Sofia Cavedon, Oliboni e Sgarboza. Quanto às entidades, registrou-se além dos movimentos sociais (MPA, MST, LPJ e MTD), a FeteeSul, Sinpro-RS, Conselho Popular da Lomba do Pinheiro, Província Franciscana/RS, Conferência Religiosa do Brasil, Família Franciscana/RS, CPERS, Irmãs Aparecidas, Irmãs da Divina Providência, Comissão Palestina do Brasil, Irmãs Franciscanas Bernardinas, Paróquia Santa Clara, Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã.

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