Marcos Antonio Corbari
Instituto Cultural Padre Josimo

Leão XIV fala para a multidão que o aguardava diante da Praça de são Pedro – Foto: VaticanNews
O início da tarde (no horário do Brasil) desta quinta-feira (08) trouxe a notícia que os católicos do mundo (e muitos não católicos também) esperavam: o anúncio de Habemus Papa. O novo pontífice é estadunidense de nascimento, francês pela origem familiar e peruano por opção afetiva: Robert Francis Prevost, daqui por diante denominado Leão XIV. Considerado de linha moderada, mas tendo laços de muita proximidade espiritual e afetiva com Francisco, destinou suas primeiras palavras para fazer memória ao legado do amigo e pedir por união na igreja e paz no mundo.
“A paz esteja com todos vocês (…) é a primeira saudação de Cristo Ressuscitado, o bom pastor que deu a vida pelo rebanho de Deus. Eu também gostaria que esta saudação de paz entrasse em nossos corações, em suas famílias, em todas as pessoas, onde quer que estejam, em todos os povos, em toda a terra. A paz esteja com você. Esta é a paz de Cristo ressuscitado. Uma paz desarmada e uma paz desarmante, humilde e perseverante. Vem de Deus. Deus que nos ama incondicionalmente”.
Leão XIV, 267.º Papa da Igreja Católica, é o primeiro membro da Ordem de Santo Agostinho a ascender ao papado. Traz consigo uma herança espiritual centrada na busca da verdade, na vida comunitária e na caridade, pilares fundamentais do carisma agostiniano. Sua trajetória inclui anos de serviço missionário no Peru, onde atuou como prior provincial e posteriormente como prior geral da ordem, demonstrando um compromisso contínuo com a missão e a formação pastoral. Vaticanistas que se manifestaram após o anuncio são unânimes em apontar a expectativa de um pontificado, que enfatize a sinodalidade, a descentralização e o diálogo inter-religioso, alinhando-se com os valores agostinianos de unidade e serviço à comunidade.
“Ainda guardamos em nossos ouvidos aquela voz fraca, mas sempre corajosa, do Papa Francisco abençoando Roma. O Papa que abençoou Roma deu sua bênção ao mundo, ao mundo inteiro naquela manhã de Páscoa”, expressou em seu primeiro discurso. “Cristo nos precede. O mundo precisa de sua luz. A humanidade precisa dele como ponte para ser alcançada por Deus e seu amor. Então, ajude-nos uns aos outros a construir pontes com o diálogo, com o encontro, unindo-nos para sermos um só povo, sempre em paz. Obrigado ao Papa Francisco”, acrescentou, estendendo o agradecimento também aos seus pares cardeais.
Durante o pontificado de Francisco, Prevost desempenhou papéis cruciais que o posicionaram como um dos principais colaboradores da Cúria Romana, a destacar a função de Prefeito do Dicastério para os Bispos, tornando-se responsável por avaliar e recomendar candidatos ao episcopado em todo o mundo . Simultaneamente, assumiu a presidência da Pontifícia Comissão para a América Latina, refletindo sua profunda ligação com a região, especialmente após décadas de serviço missionário no Peru.
“Caminhemos juntos como Igreja unida, buscando sempre a paz, a justiça, buscando sempre trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo, sem medo de anunciar o Evangelho, de sermos missionários. Sou filho de Santo Agostinho, um agostiniano que disse: Convosco sou cristão e para vós sou bispo. Neste sentido, podemos caminhar todos juntos rumo àquela pátria que Deus preparou para nós”, refletiu o novo Papa. “Devemos buscar juntos como ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, dialoga, sempre aberta a acolher como esta praça com o rosto aberto a todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, do diálogo, do amor.”
Em setembro de 2023, Prevost foi criado cardeal por Francisco, recebendo a diaconia de Santa Mônica dos Agostinianos . Durante esse período, destacou-se por sua defesa da sinodalidade e por promover uma liderança episcopal centrada na escuta e na proximidade pastoral, alinhando-se com a visão de uma Igreja participativa e missionária . Sua atuação discreta, porém firme, e seu compromisso com a reforma eclesial, consolidaram sua reputação como um dos principais articuladores da continuidade do legado de Francisco.
Relembrando o país que escolheu como nacionalidade por afeto, Leão XIV disse: “Se me permitem dizer uma palavra, saudações a todos, especialmente ao Peru. Um povo fiel acompanhado de seu Bispo, compartilhava sua fé, muito, muito mesmo, sendo uma igreja fiel de Cristo.” E tornou a destacar a necessidade de sinodalidade para ir ao encontro dos mais frágeis: “Queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que sempre busca a paz, sempre busca a caridade, sempre procura estar próxima, especialmente daqueles que sofrem”.
Deixou palavras finais de sua primeira mensagem à multidão que o ouvia na Praça de São Pedro (ou acompanhava pelos canais de comunicação mundo afora), a citação que em muitos momentos o acompanhou enquanto padre, bispo e cardeal: Maria. Para o novo pontífice, a mãe de Jesus é compreendia como intercessora e guia espiritual, expressando inclusive uma devoção especial às representações marianas populares no continente americano, como Nossa Senhora de Guadalupe, reforçando sua mensagem de proximidade com os pobres e marginalizados.
“Nossa mãe Maria quer sempre caminhar conosco, estar perto de nós, ajudar-nos com sua intercessão, seu amor”, finalizou o papa Leão, antes de convidar a todos para a reza da Ave Maria, “Rezemos juntos por esta nova missão, mas por toda a Igreja, pela paz no mundo, e peçamos esta graça especial a Maria, nossa mãe”.
A primeira fala pública de Leão XIV após o final do conclave deixa uma marca de esperança e continuidade. Suas palavras ecoam o legado de seu antecessor. Demonstram mais proximidade com a América Latina do que com seu país natal, os EUA. Deixou explícito o desejo por uma Igreja sinodal, próxima dos que sofrem e comprometida com a construção de pontes em um mundo fragmentado. Seu pontificado inicia-se com o desafio de renovar a esperança e fortalecer os laços de fraternidade entre os povos. Seja pela lembrança do Leão XIII, o “pai” da doutrina social da igreja, seja pela lembrança suave e gentil do Frei Leão, humilde amigo que secretariou o outro Francisco, o santo de Assis.
Assista a íntegra do primeiro pronunciamento de Leão XIV: CLIQUE AQUI!