Sala cheia. Pensamentos, histórias, origens diferentes. Éramos descendentes de africanos, europeus, portugueses, alemães, árabes, italianos, de todas as partes do mundo. Éramos budistas, cristãos de diferentes vertentes, católicos, luteranos e outros mais, muçulmanos, matriz africana. Éramos um e diversos, éramos diversos e um. Sentamos e conversamos, olhamos olho no olho, trocamos ideias, comungamos.
Foi a reunião do COMITE INTERRELIGIOSO EM DEFESA DA DEMOCRACIA E DA JUSTIÇA SOCIAL – LULA-HADDAD-MANUELA. (Há outros Comitês Suprapartidários formados, ou em formação, no Rio Grande do Sul: o da intelectualidade-Academia-Cultura-Juristas, o Sindical, o de Combate ao Racismo, Juventude, Mulheres, entre outros.)
E vimos que tínhamos muitas identidades, sonhos comuns. É bom descobrir, redescobrir sempre que somos diferentes, mas iguais, que somos capazes de ter nossa fé, nossas rezas, nossa cultura, nossas formas de expressar nossas crenças, nossos santos e orixás, nossas referências no transcendente, nossa história. E que elas todas, iguais e diferentes, podem dialogar, que elas se respeitam, que elas buscam o bem comum, que elas defendem a vida do ser humano e de todos os seres vivos.
Há uma transcendência que nos une.
Tiramos uma foto coletiva ao final, alegres, felizes, transcendentes, muitos fazendo aquele ‘L’ com os dedos, lembrando e saudando quem está injustamente na prisão em Curitiba. E que resiste na prisão, mais livre que muitas e muitos de nós, que manda mensagens de otimismo e esperança e fé no Brasil e seu povo, e que nos dá lições de vida, e que nos dá coragem de resistir. E, mais que resistir, ainda sonhar, ainda acreditar, ainda poder dizer que, na solidariedade, na paz, temos futuro e podemos, sendo muitos e vários, mas unidos, andar juntos na mesma estrada, trilhar caminhos comuns, entender e saborear nossas diferenças, que são unidade.
Há muitas identidades que nos unem, disse Frei Sérgio Görgen, que coordenou o Encontro, junto com a pastora luterana Cibele Kuss. Nas palavras de Frei Sérgio: ”Para defender a democracia e a justiça social, humildemente devemos nos colocar em consonância com os valores que aprendemos nos Evangelhos e assim buscar com nosso voto uma nação mais justa e mais humana.” Disse a monja Kokai Sensei: “Hoje se faz necessário responsabilidade e conhecimento na hora de votar, ter clareza em relação aos projetos que estão sendo apresentados e qual destes vai proteger a sociedade como um tecido que inclua todas as pessoas.” Falou Eliane Almeida, Negritta, das Comunidades Tradicionais de Terreiros: “É preciso relembrar as políticas públicas de inclusão social e de projetos de cidadania voltados às periferias que foram desenvolvidos e que precisam ser retomados.”
Os tempos são duros e difíceis. As eleições que se aproximam exigem tomada de posição. A unidade na diversidade vai derrotar o fascismo, vai derrotar o ódio, a intolerância, a violência nas palavras e nos atos do cotidiano. A fé no homem e na mulher, em valores como a solidariedade, o respeito às diferenças, a fé na humanidade, no cuidado com todos os seres vivos, na diversidade, na democracia é essencial nessa hora e precisa ser expressa, proclamada, anunciada, assumida.
É tempo de unir sonhos. É tempo de esquecer o que desune. É tempo de assumir. É tempo de mostrar a cara e dizer sim à liberdade, à democracia, ao respeito às diferenças. É tempo de dizer, aberta e publicamente, não ao ódio, à intolerância, a qualquer tipo de ditadura, a qualquer tipo de golpe antidemocrático.
Assim foi feito e dito, pelos que estavam na reunião do Comitê Interrreligioso de apoio a Lula e às candidaturas de Haddad e Manuela. E que vai se ampliar, vai crescer por todos os recantos, pelas ruas, pelas igrejas, pelas mesquitas, pelos terreiros, pelos templos, em todos os lugares, em todas as mentes, em todos os corações dos que têm fé, seja qual for e de qual jeito ela se expressa, especialmente entre os que têm fé na humanidade e querem que todos os seres vivos tenham vida, vida em abiundância!
* Selvino Heck foi Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990) e é Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política