Frei Wilson Zanatta*
Sepé Tiaraju nasceu em um dos aldeamentos dos Sete Povos das Missões. Foi batizado pelos Padres Jesuítas com o nome de José.
Quando criança ficou órfão de Pai e Mãe, resultado de uma epidemia de escarlatina. E foi então criado e educado pelos Padres Jesuítas com quem aprendeu a falar o Latim, além do Espanhol, e, é claro, a língua Mãe, o Guarani.
Foi intendente eleito, espécie de prefeito, no Povo de São Miguel Arcanjo, o maior dos Sete Povos.
Em torno do século XVIII, nos Sete Povos das Missões viviam aproximadamente 50 mil indígenas. São Miguel era a terceira maior cidade da América Latina, apenas perdendo para São Paulo e Assunção, Paraguai, conforme depoimento de Dom Stanislaw, Bispo de Santo Ângelo, hoje falecido.
Ao defender a Nação Guarani, para não serem expulsos de suas terras, em troca com as terras da colônia do Santíssimo Sacramento, do Uruguai, devido o tratado de Madri (1750), entre Portugal e Espanha, Sepé lutou com seus companheiros para não perderem as Reduções, (a terra, o gado, as cidades e a produção).
Entre as escaramuças em defesa de seu território, para viver com dignidade, foi assassinado pelos exércitos Europeus no dia 07 de fevereiro de 1756 na fonte da Bica, em São Gabriel, RS.
Ao perderem seu guia, os indígenas foram atocaiados a 12 km de São Gabriel, no Alto do Caiboaté, e pelos mesmos assassinos, três dias após a morte de Sepé Tiaraju, foram exterminados mais de 1500 guaranis, em pleno Pampa Rio Grandense.
São Sepé defendeu os Sete Povos proclamando em alto e bom som: “Esta terra sem males é do povo guarani. nós a recebemos de Deus e do arcanjo São Miguel e só eles tem o direto de nos deserdar”. Isto porque, a Nação Guarani foi conhecida e reconhecida como a melhor organização social cristã de todos os tempos no mundo. Juntamente com o território a ser explorado pelos Europeus, estes não suportaram a superioridade de organização de um povo que não fosse europeu. Por isso, a destruição. O massacre.
O sangue indígena derramada na América latina, ainda hoje clama aos céus, por meio deste povo Guarani que vive em silencio, lembrando seus mortos e, para que, seu povo que ainda vive, seja respeitado e reconhecido como cidadãos.
*Frei Capuchinho, autor do livro “Ervas Medicinais – Remédios e Receitas Caseiras da Sabedoria Camponesa”