O Rio Voador de Fumaça e o Sínodo para a Amazônia

20 de agosto de 2019
Autor
Roberto Malvezzi

Preservar a Amazônia seria a lógica do bom senso, até para o instinto de sobrevivência do povo brasileiro. Mas, não é o caso. Estamos vivendo um momento em que a pior fumaça é a que queima os cérebros

 

Um rio voador de fumaça cobriu o imenso território brasileiro. Ele percorreu exatamente o caminho dos rios voadores, feitos de vapor de água, que irrigam a maior parte do território brasileiro, chegando até a Argentina, Uruguai e Paraguai. É da Amazônia que vem as chuvas que abastecem grande parte de nosso território, que depois se armazenam nos aquíferos do Cerrado, mas que hoje estão sendo extintos pela devastação da Amazônia e do Cerrado. 

 

Um fato grave e exemplar como esse deveria suscitar a reflexão e a inflexão que nos apavorassem nesse momento. Afinal, os estudos científicos – tão desprezados pelo atual governo -, nos alertam continuamente que sem a Amazônia, a região brasileira que vai de São Paulo até os demais países do Cone Sul, se transformará em deserto. 

Pior, o rio voador de fumaça foi uma celebração planejada, isto é, os predadores do agronegócio decidiram celebrar a liberação do desmatamento com um dia de queimadas. E assim o fizeram. Somando com a fumaça que veio de outros países, transformou um dia de São Paulo em noite escura. 

Esse é o Brasil do futuro e do presente. Sem Amazônia, grande parte do sul e sudeste brasileiros se transformará em deserto. Não adianta tentar camuflar essa realidade, ou amenizar, como fez a reportagem da Folha de São Paulo e o Jornal Nacional, dizendo que esse fenômeno acontece todos os anos. Sim, acontece desde que as queimadas passaram a acontecer nessa época, mas não é normal, não é natural, é um processo de devastação pelo fogo. Fato é que o desmatamento e as queimadas da Amazônia aumentaram exponencialmente no último governo, sem eximir de responsabilidade os que vieram antes dele. 

O Sínodo para a Amazônia, que acontecerá de 06 até 27 de Outubro, em Roma, vai discutir com as igrejas dos nove países da região uma ecologia integral, capaz de preservar o bioma para o bem de seus povos, mas também para aqueles que se beneficiam de suas dádivas, mesmo morando fora da Amazônia, caso dos paulistas, catarinenses, paranaenses, gaúchos, argentinos, uruguaios, paraguaios, etc. 

Preservar a Amazônia seria a lógica do bom senso, até para o instinto de sobrevivência do povo brasileiro. Mas, não é o caso. Estamos vivendo um momento em que a pior fumaça é a que queima os cérebros. 

 

Roberto Malvezzi