Frei Flávio Guerra – ofm *
A festa do Natal acorda a dimensão divina que dorme no leito de nossa vida interior. Ela está inserida no nosso DNA. E inunda nosso coração de amor ablativo. Saímos de nossa redoma individualista e nos voltamos mais para Deus, para a família, para a comunidade cristã e para a solidariedade social.
O comércio aproveita a festa do Natal para vender seus mais variados produtos. E acorda no coração humano o desejo de matar a sede das necessidades materiais e psicológicas: o presente, a comida, a bebida, a roupa, a ornamentação entre tantas outras coisas. E outros atrativos que visam satisfazer os desejos ilimitados do ser humano. Os que ficam apenas nessa dimensão do Natal, entram no jogo atrativo do consumo. E diminuem a luz divina que habita em seus corações. E perdem a oportunidade de viver o espírito do natal.
Jesus revela a condição divina da pessoa
Jesus aceitou o convite de seu Pai de assumir nossa condição humana para livra-la dos males que a aprisiona. Por isso, nasceu gente como a gente. Por essa opção ele revela o quanto somos valiosos para Deus. E que a luz divina habita nosso coração. E que ela pode nos libertar das amarras da fragilidade humana e nos tornar capazes de dar o melhor de nós mesmos em tudo o que fazemos. Assim nos tornamos instrumentos de Deus na promoção da paz, da justiça social, do perdão, da solidariedade e da igualdade social.
Jesus revela a missão sagrada da família
Deus escolheu uma família para seu Filho nascer e ser educado. Maria, jovem simples, cheia da graça divina. Dedicada, de coração, às coisas de Deus as quais dizem respeito a todas as dimensões do ser humano. José, seu pai adotivo, homem justo segundo a Bíblia. Fiel aos mandamentos de Deus. Pais com todas as condições de formar um lar adequado para o desenvolvimento integral de Jesus. Através da opção de Deus de formar uma família para seu Filho, Ele revela o quanto é importante formar bem uma família para que nela os filhos tenham um lar onde possam se desenvolver plenamente. E o quanto é trágico construir família de qualquer jeito.
Jesus revela a solidariedade de Deus com pobres
Jesus nasceu numa família pobre. O lugar de seu nascimento foi uma gruta onde ficavam os animais durante a noite. Os primeiros convidados a visitá-lo foram os pastores, gente simples, pobre. Ao permitir que seu Filho nascesse pobre, Deus quis revelar, ao povo daquele tempo e a nós, sua solidariedade com os pobres. Não porque eles sejam melhores ou piores dos que tem boas condições de vida, mas porque a pobreza os obriga a viver de forma indigna. Por isso, a solidariedade pedida por Deus, a cada um de nós, é aquela que busca todos os meios disponíveis para que se realize o plano de Deus: “nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direito” (papa Francisco).
Jesus revela nossa missão com os animais
Deus não teve vergonha que seu Filho nascesse entre os animais. Eles assistiram o nascimento de Jesus e o esquentaram com seu bafo. Essa cena da fraternidade cósmica revela que eles também foram criados por Deus e com uma missão. E revela que cada um deles tem uma função indispensável na sobrevivência de todos os seres que vivem na face da Terra. Tudo isso revela que cabe a nós respeitar e cuidar de nossos irmãos animais. Não cuidar deles significa não ter consciência que tanto nós como eles saímos das mesmas mãos divinas de Deus. E que neles podemos contemplar as marcas divinas da bondade, da beleza e da inteligência de Deus.
*Frade Franciscano da Província São Francisco de Assis do RS e Pároco na São Cristóvão de Lajeado/RS.