Pesquisas recentes indicam que o intestino é nosso segundo cérebro. Quinquilhões de microorganismos degradam o que comemos e transformam os alimentos em sangue que abastece nosso coração, que irriga nosso cérebro, com o qual pensamos, decidimos, controlamos nossos movimentos, criamos, rimos, amamos, etc, etc.
Nós humanos somos um dos organismos mais complexos do universo. Organismos complexos exigem alimentação complexa, diversa, variada, consistente, saborosa e nutritiva. É na digestão que está o segredo da saúde e do bom funcionamento do cérebro.
Por consequência, se estamos mal no intestino, todo o corpo vai mal.
Nossa base alimentar vem empobrecendo ao longo das últimas décadas com as mudanças drásticas no modelo produtivo agrícola e na industrialização da alimentação. A variedade é menor e a qualidade é pior. Poucos grãos, industrializados de diferentes formas, empobrecem nossa dieta alimentar.
Além disto, os resíduos de venenos agrícolas são biocumulativos e ficam depositados em nosso organismo, de modo especial, em nossa flora intestinal. Muitos deles são, ou tem, efeito antibiótico. Vão inibindo a atividade microbiológica em nosso sistema digestivo. A digestão fica pior. Além do mais, carnes, principalmente de frango e suíno, são produzidas em sistemas intensivos que obrigam ao uso de pesadas cargas de antibióticos, além de alimentados com ração a base de milho e farelo de soja, transgênicos e embebidos de venenos.
Por fim, pesquisas recentes comprovam que o herbicida glifosato, o roundup da Monsanto, usado abusivamente em cultivos transgênicos, tem efeito bactericida no intestino humano.
O que temos então, é um intestino complexo, que precisa de muita atividade microbiológica para alimentar um organismo vivo complexo, que somos nós humanos, acumulando dia a dia inibidores de vida microbiológica, matando a flora intestinal.
Com o segundo cérebro apanhando, todo o organismo sofre. A disbiose intestinal – atividade microbiológica reduzida no intestino humano – já começa a ser uma doença preocupante nos Estados Unidos. Logo será reconhecida também cá entre nós brasileiros.
E continua-se louvando um agronegócio que nos envenena enquanto se massacra a agricultura camponesa agroecológica que produz comida de verdade, que tem gosto, sabor, textura, consistência, cor, variedade, qualidade e vida. E faz a festa da microvida do nosso intestino, o bem estar de todo o nosso corpo e o bom funcionamento de nosso cérebro.
Já dizia Hipócrates, o pai da medicina ocidental: “que o teu alimento seja o teu remédio e o teu remédio seja o teu alimento”.
O agronegócio continuará entupindo as mesas com venenos, mesmo se auto proclamando “pop”, “tec” e outras baboseiras. Caso a população urbana queira dispor de alimentos saudáveis e saborosos, cabe-lhe apoiar e defender a produção camponesa e valorizar a vida camponesa, seus Movimentos e suas lutas, para o bem da saúde de todos nós.
Frei Sérgio Antônio Görgen é frei franciscano, militante do MPA e autor do livro “Trincheiras da Resistência Camponesa”.