Hoje, a Igreja na América Latina e todos aqueles que lutam por justiça social recordam os 25 anos da morte de Dom Helder Câmara. Reconhecido como um dos maiores bispos da história da Igreja no continente, Dom Helder foi um verdadeiro ícone de santidade, misticismo, poesia e profecia.
Um Santo dos Pobres
Dom Helder Câmara nasceu em 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, Ceará, e desde cedo demonstrou um forte senso de justiça e um amor profundo pelos pobres e marginalizados. Ordenado sacerdote em 1931, e posteriormente nomeado bispo em 1952, Dom Helder foi sempre movido por uma espiritualidade intensa e um compromisso inabalável com os mais necessitados. Ele viveu e pregou uma santidade que não se limitava ao altar, mas que se estendia às ruas, às favelas, e aos lugares onde a dignidade humana era diariamente violada.
A sua vida foi marcada por uma constante busca de Deus e pelo desejo de manifestar a presença divina através do serviço aos outros. Como arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder abraçou a pobreza voluntária, vivendo de forma simples e dedicada ao povo, sendo chamado carinhosamente de “Dom da Paz” e “Dom dos Pobres”.
Profeta em Tempos de Ditadura
Durante os anos da Ditadura Civil-Militar no Brasil, Dom Helder destacou-se como uma voz profética contra a opressão. Em um tempo de silêncio e medo, ele não hesitou em denunciar as violações de direitos humanos, a tortura e as injustiças sociais perpetradas pelo regime. Sua coragem fez dele um alvo do governo militar, que tentou silenciá-lo de diversas formas. No entanto, Dom Helder continuou a proclamar a necessidade de paz, justiça e respeito à dignidade humana.
Um dos momentos mais marcantes da vida de Dom Helder aconteceu em 1969, quando, após denunciar publicamente as torturas e execuções cometidas pelo regime, ele sofreu um atentado em sua própria casa. Balas foram disparadas contra sua janela, numa tentativa de intimidá-lo e silenciá-lo. Mesmo diante do perigo, Dom Helder não se deixou abater. Ele respondeu ao ataque com uma de suas declarações mais célebres: “A violência só pode ser vencida pela justiça. E a justiça só pode ser realizada com amor.” Esse episódio consolidou ainda mais sua reputação como um defensor incansável dos direitos humanos e da justiça social.
Místico e Poeta
Além de seu papel profético, Dom Helder também foi um místico e poeta. Suas orações e escritos revelam um homem profundamente conectado com Deus, que via na poesia uma forma de expressar sua fé e seus anseios por um mundo mais justo. Sua mística estava enraizada na contemplação do Evangelho e no compromisso com a transformação da realidade. Para Dom Helder, a oração e a ação eram inseparáveis, e ele vivia cada dia com um sentido de missão que ultrapassava os limites da Igreja institucional.
Legado de Justiça e Paz
O legado de Dom Helder Câmara é imenso e continua a inspirar milhões de pessoas em todo o mundo. Ele nos deixou um exemplo poderoso de como viver o Evangelho de maneira radical e comprometida, colocando-se ao lado dos mais fracos e lutando contra as estruturas de injustiça. Sua vida foi um testemunho de que a santidade não é algo distante e inatingível, mas que se realiza na prática diária da justiça, do amor e da misericórdia.
Dom Helder faleceu em 27 de agosto de 1999, mas sua presença permanece viva na memória da Igreja e de todos aqueles que, como ele, acreditam em um mundo onde a paz e a justiça possam prevalecer. Ao recordar sua morte, somos chamados a renovar nosso compromisso com as causas que ele defendeu e a seguir seu exemplo de profecia, missão e santidade.
Que possamos, inspirados por sua vida, continuar a construir o Reino de Deus na terra, onde cada pessoa seja respeitada em sua dignidade e onde a paz seja fruto da justiça.
Dom Helder, rogue por nós!
Texto de Renan Dantas – Diocese de Juína