Na medida caminhada, no seguimento do ciclo da vida, cada pessoa vai acolhendo diferentes processos formativos considerados fundamentais na sua estruturação existencial. Forma-se primeiramente através das relações familiares, no contato com os pais, irmãos e a família ampliada. Este processo formativo, de cunho mais afetivo e relacional, é aprofundado na escola, acrescido da educação técnico formal. Tem continuidade e se aprofunda ao longo dos anos do processo escolar até a opção por um segmento profissional viabilizado por um curso superior.
Neste tempo a pessoa já estará entrando na maturidade psíquica e física e, de certa maneira, se lhe forem dadas as condições, contribuirá com a sociedade. Escrevo “se lhe forem dadas as condições” porque o acesso à educação de qualidade ainda é difícil no Brasil. Na dúvida sugiro a verificação nas últimas pesquisas sobre o nível de escolaridade e aprendizado das crianças e adolescentes. No caso do curso superior existe um afunilamento quanto ao acesso. Poucos jovens pobres concluem o ensino médio e menos ainda concluem o ensino superior. Entretanto este é outro debate e extremamente necessário. Nosso foco é outro.
Escrevia acima sobre o processo formativo na vida de uma pessoa para tratar de uma lacuna que se agrava cada vez mais, a formação política. Ela é muito importante e não e reduz à emissão de opiniões sobre este ou aquele governo. Ou então saber em que candidato votar a cada dois anos. Urge um passo a mais. E, neste caso, a temos um déficit grande.
As manifestações de rua intensificadas a partir de 2013 podem ter revelado um engodo no sentido de pensar que estávamos amadurecendo politicamente. Não esqueçamos o grande papel mobilizador da mídia nestas manifestações. Contudo, os momentos de “piquenique cívico”, alavancados pela mídia, permitiram a explicitação de preconceitos e leituras de mundo à margem de uma cultura minimamente civilizada. Foi dito e viu-se muitas atitudes preocupantes. Os seis anos seguintes as manifestações foram intensas e mudaram o vetor de condução do país com forte influência nas últimas eleições.
Depois disso chegou a ressaca. Ela é um tanto doída. Alguns fatos começaram a se explicitar e mostraram que o maniqueísmo demonstrado na divisão entre os salvadores da moral e da ética e os ameaçadores da pátria, estava um tanto confuso. Valeram os falsos preceitos: corrompo para combater a corrupção; inflijo a lei para salvar a lei. Resta curar a ressaca e reencontrar o caminho do exercício político e da planificação da democracia.
Não será fácil. E este reencontro passa pela formação política. Ela é demorada, ampla, profunda, contudo, necessária. Começa na família, passa pelos bancos escolares e também na convivência em sociedade. É dever de cidadão buscar a formação política. Junto com a formação urge exercitar a política. É tarefa cotidiana e vai além da filiação partidária. Se explicita na participação dos conselhos, na filiação e participação sindical, na militância na associação de bairro, no acompanhamento do exercício dos parlamentares nos quais se votou nas últimas eleições, dentre outras atividades. Segundo o Papa Francisco é a mais bela forma de caridade porque se volta para o bem comum.
Tenhamos a coragem de contribuir para a superação deste déficit formativo. Busquemos a formação política. Exercitemos a política como forma de caridade.
Pe. Ari Antonio dos Reis