Notícia

Franciscanos do RS realizam Capítulo e elegem novo Definitório Provincial

Frei Olávio Dotto é o novo ministro, Frei Marino Rodhen permanece no governo como vigário provincial, mas definidores tem rosto jovem

 

Marcos Corbari | ICPJ BdF-RS MPA

 

 

A última semana foi marcante para os frades que integram a Província São Francisco de Assis do RS. Os integrantes da Ordem dos Frades Menores (OFM) se reuniram no Convento São Boaventura, na localidade de Daltro Filho, município de Imigrante (RS) para a realização do seu Capítulo Provincial. Trata-se do momento em que os rumos da Província são debatidos, se constrói o planejamento para os próximos 6 anos e, também, de forma democrática, são eleitos o Ministro, Vigário e Definidores provinciais.

Contando com a participação de 52 Freis, o encontro iniciou no dia 13 e se estendeu até o dia 17, encerrando com a confirmação do Frei Olávio José Dotto no cargo de Ministro Provincial. Frei Marino Pedro Rodhen, que foi ministro no último período, agora assume a função de Vigário Provincial. Já os freis Frei Pedro Geremias Bruxel, Frei Cláudio André Lottermann, Frei Franklin Francisco Silva de Freitas e Frei Patrício Ceretta foram estabelecidos como Definidores Provinciais.

Um dos temas centrais do debate foi o redimensionamento provincial da evangelização franciscana no RS. Este foi um dos principais temas da assembleia e envolve diretamente as frentes de missão onde os freis atuam. O novo ministro expressou que diante dos desafios que a cultura socioeclesial apresenta e da realidade humana da Província, respeitando o critério franciscano da itinerância, é preciso, como Província, repensar e adequar as frentes de trabalho e missão.

Sob a coordenação desse grupo serão conduzidas as decisões da Província, que atualmente atua em 18 fraternidades em diferentes pontos do RS, tendo ainda frades atuando no Uruguai e na Terra Santa. A convite dos frades, o BdF acompanhou alguns momentos do Capítulo e ao final entrevistou o Frei Olávio Dotto.

Aos 54 anos de idade e 33 anos de vida franciscana, o Frei Olávio José Dotto OFM já atuou em diferentes frentes: esteve em paróquias urbanas e redes de comunidades rurais, na animação vocacional, na moderação da formação permanente e no definitório provincial.  Outro destaque são os 8 anos como Assessor da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

BdF: Como você encara esse novo momento e os desafios que a Província manifesta frente o novo definitório recém-empossado?

Frei Dotto: É um grande desafio, primeiramente partindo da confiança que os frades depositam neste grupo. O segundo ponto é como a gente coloca em prática as grandes decisões. Nesse sexênio temos que fazer dois movimentos. O primeiro é o redimensionamento, tendo claro, assim como nos falou o nosso visitador – Frei Wanderlei de Couto OFM – que não significa simplesmente largar algum lugar ou assumir outro lugar, é a gente fazer o processo de redimensionamento interno, é ajudar os frades a ter essa consciência, dessa mudança interior, remanejamento interior. Segundo, aí sim, é pensar onde que a Província, com o seu carisma, com sua missão, ela não pode abrir mão de estar. Vamos usar o critério do Papa Francisco: a gente tem que estar junto aos pobres, aqueles que mais precisam. Esse tem que ser o critério norteador nosso, tanto para aqueles do meio urbano, quanto para as comunidades rurais, tradicionais, indígenas e quilombolas. Precisamos ter o mapeamento dessa presença e também a compreensão do que o carisma franciscano significa para o mundo e para aquelas pessoas que estão ali, onde o carisma precisa estar naquele momento da história.

BdF: O rosto do novo definitório, de modo geral, é um rosto jovem. Isso indica renovação na Ordem Franciscana Menor?

Frei Dotto: O definitório é uma oxigenação também, logicamente vem ideias novas, é isso que se pode esperar. Está ligado ao que respondi na pergunta anterior, à questão do redimensionamento. É um olhar novo. Não é só na Igreja, nas congregações religiosas, a sociedade de modo geral tem medo de dar passos. Na Província trabalhamos sempre num certo equilíbrio, sempre mesclando no Definitório alguns membros mais experientes e alguns mais jovens, mas desta vez foi um pouco diferente. De certa maneira a gente mantém uma continuidade, mas com o rosto, digamos assim, mais jovem, e talvez tenha um olhar mais atento para essas realidades onde nós somos chamados estar nesse momento e onde nossa missão já foi concluída. Nós podemos então restituir essa presença e podemos, quem sabe, abraçar uma nova experiência, uma nova presença. Então, eu creio que esse olhar de um Definitório mais jovem, talvez ele facilite esse olhar, um novo olhar que sente, que sabe os novos desafios, as novas perspectivas.

BdF: O último governo passou por momentos difíceis, Frei Marino teve no seu período como Ministro Provincial a pandemia, enchentes, enfim, momentos desafiadores na perspectiva da fé e da ação social. Essa vivência será aproveitada nesse novo governo?

Frei Dotto: Isso é muito importante. Assim firmamos esse caráter de continuidade, Frei Marino segue conosco no governo como Vigário Provincial, alguém que transmite também a segurança para o novo definitório que assume e com a experiência também nos ajudará a fazer a travessia. A pandemia e as catástrofes trouxeram consequências, inclusive para os frades, não tem como dizer que isso não tenha afetado também a vida dos frades, no nível psicológico e emocional, precisamos aprender a trabalhar com a experiência anterior e ver como ajudar os frades a superar isso e estarem prontos para desafios novos que surgirão. O que que é decisivo nisso tudo? É o assumir em conjunto.

BdF: Qual a centralidade da missão hoje?

Frei Dotto: Eu sempre digo que a missão dos frades é fazer acontecer os projetos aprovados, as prioridades, não é só do governo provincial, não são só aquelas seis pessoas. As seis pessoas que foram eleitas é para dinamizar, mas tem que ser assumido pelo conjunto. Então vamos trabalhar nessa perspectiva do diálogo, como implementar os projetos, as prioridades da Província, pensar a formação, pensar a vocação, como acompanhar, como acolher e que a Evangelização, como o carisma, se torna atual hoje e atrai as pessoas e ajuda as pessoas no seu processo de assumir a sua vida e humanizar mais o mundo. São Francisco foi isso, ajudou a humanizar no seu tempo. Então como que nós hoje vamos ajudar a humanizar o mundo também através do carisma franciscano? Acho que esse é o grande desafio, tendo foco, estar junto dos pobres.

BdF: Qual São Francisco vai lhe conduzir? O santo dos altares e das orações bonitas ou o irmão pobre que caminha com o povo e compartilha as dores e anseios do povo?

Frei Dotto: Eu acho que tem que assimilar, tem que mesclar as duas dimensões. Obviamente que o carisma, o abraçar, ele se manifesta exatamente nos rostos concretos. Você vai estar lá junto no dia a dia, seja lá com o pequeno agricultor, com o povo indígena, com a comunidade quilombola, com as pequenas comunidades periféricas. Mas só vamos conseguir estar lá, permanecer lá, caminhar juntos também, se conseguirmos abastecer o nosso corpo com aquele outro São Francisco. Nós somos chamados a ser a mansidão no mundo. Todas as grandes personalidades, seja Gandhi, Dom Oscar Romero, e tantos outros, foram pessoas transmitiram o amor, levaram o bem, transformaram o mundo, eles se abasteceram na fonte da espiritualidade. Então é como fazer o casamento desses dois Franciscos. Mas assim, a partir de onde é que a gente faz esse abastecimento da espiritualidade? A partir dos rostos, das realidades concretas. Então, não existe uma espiritualidade abstrata. A espiritualidade é para nos ajudar, para alimentar a nossa missão, para dar o nosso testemunho no nosso espaço, onde estamos.

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