“Não sei o que acontecerá agora, se virão dias difíceis. Mas realmente não me importa, porque estamos no cimo da montanha. Como qualquer um, gostaria de viver uma vida longa. A longevidade tem seu lugar. Mas agora isso não me preocupa. Quero apenas fazer a vontade de Deus. E Ele me permitiu subir a montanha e olhar, e vi a Terra Prometida. Pode ser que não chegue lá com vocês, mas quero que saibam que, como povo, chegaremos à Terra Prometida. Por isso estou feliz esta noite. Nada me preocupa. Não temo nenhum homem. Meus olhos viram a glória do Senhor”.
3 de abril de 1968, templo do bispo Charles Mason, Memphis, Tennessee.
Um dia antes de ser morto.


Em 15 de janeiro de 1929, nascia ativista norte-americano Martin Luther King. O ativista lutou contra a discriminação racial e tornou-se um dos mais importantes líderes dos movimentos pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, recebendo o Prêmio Nobel da Paz de 1964. Luther King nasceu em Atlanta, Geórgia, Estados Unidos, filho e neto de pastores da Igreja Batistas resolveu seguir pelo mesmo caminho. Em 1951 formou-se em Teologia na Universidade de Boston. Convertido em pastor, em 1954, Martin Luther King assumiu a função de pastor em uma igreja na cidade de Montgomery, no Alabama.
Desde jovem, Martin Luther King tomou consciência da situação da segregação social e racial em que viviam os negros de seu país, em especial nos estados do Sul. Em 1955, começou sua luta pelo reconhecimento dos direitos civis dos negros norte-americanos, com métodos pacíficos, inspirado na figura de Manhattan Gandhi e na teoria da desobediência civil de Henry David Thoreau¹, as mesmas fontes que inspiraram a luta de Nelson Mandela contra a Apartheid, na África do Sul.
Em agosto de 1955, uma costureira negra, Rosa Parks, foi detida e multada por ocupar um assento reservado para as pessoas brancas, pois nos ônibus de Montgomery o motorista tinha que ser branco e os negros só podiam ocupar os últimos lugares. O protesto silencioso de Rosa Parks propagou-se rapidamente. O Conselho Político Feminino organizou um boicote aos ônibus urbanos, como medida de protesto. Martin Luther King apoiou a ação e, pouco a pouco, milhares de negros passaram a caminhar quilômetros a caminho do trabalho, causando prejuízo às empresas de transporte. O protesto durou 382 dias, terminou em 13 de novembro de 1956, quando a Suprema Corte norte-americana aboliu a segregação racial nos ônibus de Maontgomery. Foi o primeiro movimento vitorioso do gênero registrado no solo americano. No dia 21 de dezembro de 1956, Martin Luther King e Glen Smiley, sacerdote branco, entraram juntos e ocuparam lugares na primeira fila do ônibus.
Os movimentos contra a segregação dos negros provocaram a ira das autoridades e de grupos racistas como o Ku Klux Klan, que atacavam com violências os participantes, o próprio Luther King e os grupos ativistas Panteras Negras e o muçulmano Malcolm X.
Em 1957 Martin Luther King fundou a Conferência da Liderança Cristã do Sul, sendo o seu primeiro presidente. Passou a organizar campanhas pelos direitos civis dos negros. Em 1960 conseguiu liberar o acesso dos negros em parques públicos, bibliotecas e lanchonetes.
Em 1963, sua luta alcançou um dos momentos culminantes, ao liderar a “Marcha sobre Washington”, que reuniu 250 mil pessoas, quando fez seu importante discurso intitulado “I Have a dream” (Eu tenho um sonho), onde descreve uma sociedade, onde negros e brancos possam viver harmoniosamente. Nesse mesmo, Martin Luther King e outros representantes de organizações antirracistas foram recebidos pelo presidente John Fitgerald Kennedy, que se comprometeu agilizar sua política contra a segregação nas escolas e a questão do desemprego que afetava de modo especial toda a comunidade negra. No dia 22 de novembro de 1963, o presidente foi assassinado.
Em 1964 foi criada a Lei dos Direitos Civis, que garantia a tão esperada igualdade entre negros e brancos. Nesse mesmo ano Martin Luther King recebeu o “Prêmio Nobel da Paz”. Segue um trecho do discurso:
“Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Tenho um sonho que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais.
Tenho um sonho que um dia nas montanhas rubras da Geórgia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos proprietários de escravos poderão sentar-se à mesa da fraternidade.
Tenho um sonho que um dia o estado do Mississipi, um estado deserto, sufocado pelo calor da injustiça e da opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu caráter.
Tenho um sonho, hoje.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com a qual regresso ao Sul. Com esta fé seremos capazes de retirar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar as dissonantes discórdias de nossa nação numa bonita e harmoniosa sinfonia de fraternidade. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ir para a prisão juntos, ficarmos juntos em posição de sentido pela liberdade, sabendo que um dia seremos livres.
Esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: “O meu país é teu, doce terra de liberdade, de ti eu canto. Terra onde morreram os meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, que de cada localidade ressoe a liberdade”.
A luta continuou. Em 1965, Martin encabeçou uma manifestação de milhares de defensores dos direitos civis desde Selma até Montgomery. Mas sua luta teve um fim trágico, quando sua vida foi interrompida por um tiro enquanto descansava na sacada de um hotel em Memphis, Tennessee, Estados Unidos, no dia 4 de abril de 1968, onde apoiava um movimento grevista dos lixeiros.
Em 1977, em homenagem póstuma, representado por sua esposa Coretta Scott King, recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade. Em 2004 recebeu a Medalha de Ouro do Congresso Americano, pelos 50 anos da promulgação da histórica Lei dos Direitos Civis.
Martin foi um religioso e um militante. Em meados dos anos 50 os pastores negros do Sul começaram a fazer de uma maneira mais enfática a busca pelo significado dos valores cristãos da igreja primitiva e trazê-los para sua prática religiosa. Eram valores que defendiam a justiça, igualdade e liberdade para os indivíduos enquanto seres humanos cristãos, e pertenciam à própria tradição judaico-cristã; eram necessariamente valores libertadores quando praticados no seu significado verdadeiro, pois eles não apenas retomavam uma nova dimensão do que era ser cristão, mas também permitiam às pessoas religiosas vislumbrarem uma nova forma de agir no seu entorno de uma maneira cristã. Nessa ação cristã, o amor cristão era necessariamente acompanhado por um desejo de justiça. É o que propunha Luther King no seu primeiro discurso em 1955:
“Vamos ser cristãos em todas nossas ações. (Está bem) mas eu quero dizer a vocês esta noite que não é suficiente falar sobre amor. O amor é um dos pontos primordiais da fé cristã. Há um outro lado chamado justiça. E a justiça é realmente o amor vivenciado. (É certo) A justiça é o amor corrigindo tudo aquilo que revolta contra o amor. (Bem) (…). É o amor corrigindo tudo aquilo que revolta contra o amor. (Bem)”.
Martin Luther King, é um exemplo de líder pacifista que transformou e marcou a história dos Estados Unidos e do mundo com um movimento político-social numa jornada que mobilizou multidões na luta pela igualdade racial. A partir da tomada de consciência de que a discriminação racial ou racismo constitui um mecanismo fundamental de poder utilizado historicamente para separar e dominar classes, raças, povos e etnias. A discriminação se dá nos variados setores da sociedade, desde a falta de acesso ao mercado de trabalho (e à salários compatíveis com brancos em mesma função), à educação, bem como à ausência nas instâncias de poder e decisão, quer nos setores políticos, sociais ou religiosos.
No dia 21 de janeiro, será celebrado o Dia de Martin Luther King Jr., é um feriado nacional estadunidense em homenagem a Martin Luther King Jr, oficializado em 1983, sendo celebrado na terceira segunda-feira do mês de janeiro, data próxima ao aniversário de Luther King. É um dos três feriados nacionais dos Estados Unidos em comemoração a uma pessoa.
“Eu tenho um sonho: que meus quatro filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, e sim por seu caráter”.
23 de agosto de 1968, na Marcha de Washington pelo Trabalho e pela Liberdade
Nota Explicativa:
- A Desobediência Civil é um ensaio escrito por Henry David Thoreau em 1849. Thoreau escreveu o livro após ter sido preso por não pagar seus impostos, que ele se negou a pagar porque financiavam a guerra contra o México, que na época teve grande parte de seu território anexado pelos EUA.
Referências:
FELICIANO, Hélio Cândido; FÉLIX, Roberval; SOUZA, Ladjane Maria de Oliveira; SOUZA, Amós Sebastião de. Martin Luther King E A Luta Contra A Discriminação Racial: Um Exemplo De Como O Cristão Pode Atuar Contra As Injustiças Sociais. Acesso em 13/01/2019. Disponível em http://www.fatin.com.br/download/paper-martin-luther-king.pdf
FRAZÃO. Dilva. Mártin Luther King. Acesso em 13/01/2019. Disponível em https://www.ebiografia.com/martin_luther_king/
*Graduanda em Filosofia na UFPel,
Assessora da Pastoral da Juventude (PJ) e
Militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)