Revista de Rádio Nº561 - 16 de maio de 2024



Bloco 1:

Bloco 2:

INSTITUTO CULTURAL PADRE JOSIMO 

PROGRAMA REVISTA DE RÁDIO

Produção e apresentação: Frei João Osmar

561º programa: 16 de maio de 2024:

1- Resenha: Hoje vamos continuar falando sobre a grande tragédia climática que se abateu sobre o RS nas últimas semanas. Segundo dados da Defesa Civil divulgados  nesta quinta-feira pela manhã, antes do fechamento desta edição do programa Revista de Rádio, os números são os seguintes: Já são 151 o número de vítimas fatais. São 615,3 mil pessoas fora de casa. Deste total, 538,1 mil estão desalojados (em casas de amigos ou parentes) e 79,4 mil foram acolhidos em abrigos. Chegam  2,2 milhões de pessoas e dos 497 municípios do RS, 458 registraram algum tipo de prejuízo. Vou orientar a minha fala pelo belo artigo escrito pelo meu amigo e irmão de Caminhada Pe. Alfredinho do Serviço Pastoral dos Migrantes de São Paulo, SP, a quem agradeço a colaboração. O texto na íntegra está na nossa página no site do Instituto Cultural Padre Josimo.

A riqueza de quem tudo perdeu Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, assessor do SPM – São Paulo 14/05/2024

Evidentemente não se trata de romance ou poesia. A ferida da tragédia permanece viva e sangrenta por todos os poros. Água e lama ainda cobrem as casas, em alguns casos até o teto. Centenas de milhares de pessoas, sem chão e sem rumo, encontram-se nos abrigos improvisados. A grande maioria dos atingidos perderam em segundos, minutos, horas tudo aquilo que haviam conquistado durante anos. Estradas continuam bloqueadas, pontes foram levadas pela torrente, edifícios ruíram definitivamente. Nesses abrigos, não é fácil resgatar um mínimo de privacidade familiar ou parental. Menos fácil, ainda, é ver-se dependente da caridade pública. Água potável e alimentos; remédios, perfumes e cosméticos; roupas do corpo, de mesa e de cama; produtos de higiene pessoal e calçados; veículos, eletrodomésticos, móveis e colchões; livros, fotos, documentos, lembranças do ambiente familiar e amigo; toda espécie de animais de estimação e até mesmo os brinquedos das crianças – tudo foi arrasado e arrastado pela fúria brutal da tempestade.

Uma calamidade sem precedentes que se estende por quilômetros de ruas e avenidas alagadas. Que mostra sua face mais cruel nas habitações engolidas até o telhado, nas ruínas, escombros e destroços acumulados por todos os lados. E que, em rápidos segundos, impõe a difícil decisão de sair ou não sair da própria casa, tão duramente adquirida. Pior, uma tormenta que não dá tréguas, entrando pelas portas e janelas uma, duas, três vezes!… Pessoas completamente ilhadas à espera do socorro, bairros tomados pelo pânico, cidades inteiras isoladas de qualquer ponto de contato. A tanta e tamanha desgraça, somam-se as redes hidráulica e elétrica comprometidas, comprometendo igualmente qualquer tido de comunicação. Lamentos, lágrimas engolidas à força e pranto declarado vão se multiplicando. Merecem todo respeito e reverência. E agora chega o frio!

O pesadelo parece não ter fim. A cada estiagem, chegam as previsões meteorológicas de novas aguaceiros. A água dos rios que já começa a baixar, se ergue outra vez furiosamente. Até quando esta situação degradante, até quando este inferno?!… Mas, é justamente o inferno que acaba por revelar um pedaço do céu. Em meio à crise, ao caos e ao “apocalipse”, a humanidade se encontra consigo mesma. Os desencontros nos espaços dos abrigos abrem a oportunidade para encontros inusitados, mas também reveladores. Dor, medo, inquietude e ameaça são as coisas que mais se compartilham. Destinos adversos se cruzaram e cruzam, e nessas inóspitas encruzilhadas, luzes e sombras se mesclam e se entrelaçam. A experiência de árduas experiências passadas pode, sim, levar a uma fusão de horizontes ” furos”, para usar a expressão de H. G. Gadamer.

Mas no terreno das perdas, da carência e da penúria, podem emergir riquezas absolutamente insuspeitadas. A humildade de receber bem pode se revelar tão nobre e tão grande quanto a solidariedade de oferecer. Aliás, as noites mais escuras e as crises mais desesperadoras, numa ambiguidade característica da condição humana, costumam intensificar tanto a corrupção do mal quanto o brilho do bem. E aí oportunidades e oportunismos andam de mãos dadas. Vandalismo e voluntariado normalmente coexistem em meio às desgraças. É nesse solo ambíguo e escorregadio que o ato de “dar e o receber” tendem a revelar as riquezas ocultas no mais profundo das entranhas humanos. Por terra caem as máscaras, desnuda-se a hipocrisia do cotidiano, nivelam-se orgulhos e humilhações, para o surgimento inesperado de novos laços, novos encontros, diálogos nunca antes imaginados – enfim, para novas relações humanas.

Semelhantes momentos turbulentos tendem também, e sobretudo, a relativizar e ressignificar o conceito de riqueza. Descobre-se subitamente de quão poucas coisas necessitamos para sobreviver sobre a face da terra. Banalizam-se muitos objetos que antes consideramos essenciais e absolutos. O caminho e o sofrimento ajudam a depurar a mala e a alma. Purificam a quantidade de produtos e quinquilharias que, pouco a pouco, vamos acumulando ao longo de nossa trajetória existencial, focalizando o olhar e a atenção naquilo que é essencial. Quem navega sabe que, às vezes, é preciso esvaziar a embarcação do que é supérfluo, para salvar o que é absolutamente indispensável.

Vivemos numa sociedade cuja primazia está posta no processo de produção-comercialização-consumo. Nela, com frequência as pessoas se medem pela quantidade ou aparência de “bens” que possuem, não pelo “bem” que são capazes de colocar à disposição, e menos ainda pelas relações que são capazes de costurar e cultivar. Apesar da perda, a maior riqueza humana permanece de pé, junto com a vida, a fé e a esperança!

2- Testemunho/entrevista: Hoje vamos ouvir o testemunho da irmã Inês Pretto da congregação das Irmãs da Divina Providência. É filha de pequenos agricultores, de uma família de 14 irmãos, nascida em Relvado, próximo a Encantado no Vale do Taquari, RS. Aprendeu desde pequena em sua família de tradição católico-romana que tudo que agente tem vem da bondade de Deus e também do trabalho humano. Inês, enquanto irmã religiosa, dedicou e dedica sua vida à ação evangelizadora nas periferias do mundo, sejam elas rurais ou urbanas ou então quem sabe, sociais. Vale a pena ouvir este belo testemunho de vida. 

3- Música: A Grande Esperança, com Zilo e Zalo;

   4- Fotos: Da internet – Irmã Inês e Vida Religiosa Consagrada.